Sentada no sofá,
ela não consegue tirar os olhos da maçaneta
da porta da sala.
Está
na mesma posição desde que chegou ao apartamento, há
cinco minutos...ou seria uma hora?...talvez um ou dois
dias, sabe-se lá. Somente ela poderia responder, mas
não tem a mínima
ideia.
Sentou-se para ver televisão,
não encontrou canal que a fizesse parar
de pressionar o controle remoto com o ritmado bate-estaca do indicador.
Pegou uma revista sobre a mesa de
centro, folheando-a com o mesmo desinteresse com que olhava os canais na TV.
Olhou as horas e se perguntou quando ele chegaria hoje.
O celular dentro da bolsa, a bolsa
sobre a mesa da cozinha, a cozinha na longínqua
esquina de uma curva que passa pela sala de jantar, fez com que desistisse de
lhe telefonar para perguntar.
De mais a mais, quase sempre o horário
que ele assegura não se concretiza.
Na maioria das vezes, um rápido
chá com torradas, uma ducha na lenta
preguiça do corpo a desfrutar da tepidez da água,
um roupão macio a trazer afago à
pele fresca, a luz solitária
de um abajur fiel, as linhas solenes de um livro pego na estante, ao acaso, são
companhias para suas noites de espera.
Por vezes, o sono se recusa a aguardar
quieto, a um canto do quarto, o momento em que será
chamado: sobe silencioso ao leito, escorre fluidez pelos
lençóis e cresce como maré
cheia, até atingir com desaviso o corpo da
mulher: nada mais então pode salvá-la,
e a espera se converte em um corpo semitombado, em um livro escapado das mãos,
em uma silenciosa luminosidade de uma luz fiel.
"O tédio
é o único
pecado para o qual não há
perdão" - Oscar Wilde. Ela lê
na revista a frase solta em meio a outras frases, flutuando
na página como ilhas, à
deriva, moldadas em letras.
Os dias podem se suceder, o sono vai
envolver a si mesmo num canto do quarto, mas está
decidida: continua a esperar.
Uma hora a maçaneta
vai girar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário