7.3.07

A noite, o sono, um homem, uma mulher

Sonolento, ele abre os olhos e vê a mulher ajoelhar-se na cama, colocar as mãos sobre o leito e avançar em sua direção com leve sorriso. A luz do abajur cria um halo em torno dela, fazendo com que ele tenha a impressão de ser a amada a fonte da luminosidade que passeia pelo quarto. Quando o rosto da mulher está quase tocando o dele, o homem cerra pálpebras e apenas sente, nos seus, o gosto dos lábios dela. Agora quem sorri é ele, torna a abrir os olhos, ainda com dificuldade pela sonolência que lhe neblina os sentidos.
Ela se deita ao seu lado, o homem se vira, e o rosto de um é margem oposta ao do outro – entre eles, um caudaloso rio de silêncio e quereres.
A mulher coloca a perna direita sobre as pernas do homem e o envolve pela cintura com o braço direito. O sono recolhe-se de vez a um estado de latência. E o homem olha a coxa sobressair da fenda do roupão, desliza as costas dos dedos da mão esquerda na face da mulher, beija-lhe a testa.
A mesma noite, que há pouco sombreava cansaço no homem, esvoaça pelo aposento cálidos desejos alados, que caem sobre os corpos e os alimentam com a troca dos toques de mãos e lábios.
Esquecidos da noite e do sono, o homem planta um sussurro próximo ao ouvido da mulher; ela fecha os olhos para senti-lo. Ele rega-lhe a boca com úmidas palavras não ditas; ela cria tempestade em líquidas frases soluçadas; O homem lhe semeia as pontas dos dedos pelo corpo; a mulher espanta a aridez de sua pele e cobre-se de arrepios.
Cúmplices, a noite consome seu longo fôlego em cadenciada respiração. E o sono sabe que terá um repouso prolongado.