Não existe trilha para conduzir o homem ao local desejado. Com um facão, ele abre caminho com gritos secos da lâmina sobre folhas, cipós, plantas baixas, galhos. Toda a mata respira em uma mesma cadência, pulsando um ar abafado e úmido a criar o calor que empapa a camisa do homem. Ele pisa em folhas secas, espatifando o solo sob suas botas com inumeráveis estalidos agudos. Uma brisa esparge os raios de sol por toda a mata ao jogar folhas e galhos lentamente de lado a outro, criando um jogo de luz e sombra. Depois de um trajeto longo no tempo e curto no espaço, o homem encontra o lugar que procurava.
Enormes árvores esticam caules para longe do chão, criando paredes de quinze, vinte metros de altura feitas de tronco e casca. O silêncio cede o corpo ao manto sonoro tecido pelos pássaros, pelas folhagens. Uma penumbra quente flui por entre as árvores, como se a mata acelerasse a respiração.
O homem tira o chapéu, enxuga o suor com um lenço encharcado, toma um gole de água, coloca a moto-serra sobre o solo.
Logo, o barulho dos dentes famélicos esvoaça alguns pássaros, serpenteia por entre o verde, treme a terra com um sismo cadenciado e rouco.
O homem aproxima a lâmina de um tronco, encostando-a na rugosa carne da casca.
Em lascas apressadas a escapar de seu corpo, em verde folhagem a tentar prender-se no ar, em altiva copa a buscar o céu, em líquida seiva a escorrer de seu seio, a árvore grita dor.
Ao tombar, ela esparrama agonia por entre os inúmeros troncos que a cercam com suas copas compactas que não mais o serão; com seus galhos estirados em abraços que jamais se darão.
Ainda por um tempo, as raízes seguirão na tarefa de prender-se à terra, por desconhecerem a inutilidade de se agarrar ao solo quando se perdeu o céu.
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