Noite. A escuridão do céu tenta esconder pontos que gritam luz. Atrás de alguma montanha despontada no horizonte invisível, a lua não ilumina as nuvens que não existem. Procuro. Na imensidão de trevas a moldar o firmamento, vejo uma estrela. Procuro e procuro. Vejo a luz de mais uma e de outra. Procuro e procuro e procuro. Ante meus olhos, luzes espocam, inundando minha retina de estrelas. E dentre todas, a falta.
Saudade é um céu vestido de estrelas, menos uma.
Manhã. O vento sopra leve, joga displicente uma folha para além, carrega-a de volta, empurra-a para mais além. Na praia, os grãos de areia agarram-se uns aos outros, resistem ao vento. Contrafeito, ele aumenta sua força. Nenhum grão se move. O vento infla o peito, retesa braços, urra potência e decisão. Alguns grãos são afastados dos outros, saem do alcance da língua do mar. Desesperadas, as águas esticam dedos, alongam abraços, choram líquido lamento.
Saudade é maré vazante, em que o mar contempla areia que só salgará novamente quando se fizer mais água.
Tarde. Ligo o rádio. As notas das músicas escorregam em meus ouvidos, buscam os seus para inundar, e acabam por se afogar no seco ar que seu vazio cria. Sento-me à mesa. Sua cadeira vazia é presença a escolher o prato. Terminado o almoço, acelero a moto. A ausência de suas mãos em meu peito é abraço a apertá-lo em cada curva. O automatismo do trabalho carrega meu corpo enquanto minha mente se aloja no Convento de Nossas Palavras.
Saudade são todas as palavras que não digo ao repetir o mantra que não me torna santo, mas que me livra da mesquinhez humana: seu nome.
Nenhum comentário:
Postar um comentário