Quantos minutos deixam de existir com o avanço do ponteiro do relógio de parede? A mulher não conta o tempo pelo relógio, mas pela quantidade de mães e crianças que entram e saem da sala de espera; conta-o pelo choro lento e molhado dos bebês; pelo letárgico sono febril de algumas crianças, como esse que brinca de tomar seu filho pelas mãos e imergi-lo em lamentosa apatia.
O menino encosta a cabeça no braço da mãe; o ardente e invisível fogo das febres pesa-lhe as pálpebras, e ele pisca olhos. Olha ao redor sem interesse, vê outras crianças e quer distância delas, quer mesmo é voltar para casa. Enfia a mãozinha pelo braço da mãe, que o olha por sobre o ombro: “Que foi, Felipe...tá doendo?”. Ele nada responde, mal levanta o olhar, afunda a cabeça no colo materno, num esforço entre manter-se sentado e se deitar.
A mulher alisa os cabelos do filho, coloca-lhe as costas da mão direita na testa, medindo com precisão materna a temperatura. Na mão esquerda, o envelope lacrado do laboratório.
A mãe corre olhos pelo nome do filho, pelo nome do médico impressos no envelope. Olha o papel muito branco, sem dobras, sem manchas, apenas um selo lacrando o destino de Felipe; apenas um selo e o tempo escoado em mães e crianças a entrar e sair do consultório. Há dias a quente lava da ansiedade queima-lhe o estômago, tranca-lhe a garganta, impedindo-a de se alimentar, apagando-lhe o sono, consumindo-lhe a voz.
O menino se mexe, tenta se levantar, a mãe puxa-o pelos braços, ajeita-lhe o corpo amolecido em seu regaço, beija-lhe a testa.
Quando a secretária a chamar, ela carregará o filho no colo, entregará o envelope ao médico, atingirá o cume da montanha que vem evitando escalar, terá de lhe encarar a fumegante cratera.
E rezará para que as palavras ouvidas sejam rio sereno e fresco a lhe aplacar o vulcão da angústia.
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