Ao longo do dia, ela me visita em horários diversos, mas é presença freqüente. Voa em torno de mim vôos incertos, bafejando suspiros de saudade com o movimento das asas. Pousa às vezes no meu ombro e sussurra frases desconexas impregnadas de paixão. Assusta-se muito facilmente ao menor sinal da presença de outra pessoa. Nesses momentos, ela se aninha em algum lugar que desconheço, mas que não deve ser muito distante. Basta perceber-me novamente só e ela volta a me chamar, bailando a silenciosa música que a alma nunca olvida.
Tão logo tranco a porta, ao retornar para casa no final do dia, encontro-a a me esperar perfumada e faminta de mim. Ela então me acompanha ao banho; divide comigo refeição ligeira; ouve as músicas, que escolho sem lhe pedir opinião; senta-se aos meus pés enquanto bato teclas no computador; passeia olhos e ciúmes pelos livros que leio.
Eu,algumas vezes, me embriago. Ela, sóbria, sempre se embriaga de mim.
À noite, quando parto para cama, ela se desnuda de véus e pudor, rola sobre meu leito, sopra hálitos de bons sono e sonhos, esparrama por todo o aposento o mar encapelado que lhe forma os cabelos.
Antes de o cansaço dar o veredicto final, faço curta oração de agradecimento, apago as luzes. A Solidão então cerra todas as frestas, impedindo toda e qualquer visita da solidão.
Logo ela se aquieta, acomodando-se junto a mim e me envolvendo em um beijo quente e seco.
E enquanto eu durmo, ela vela pelo meu descanso.
Como sempre.
Um comentário:
Ave solidão companheira, útero de encantos, alimento de Amores, mãe da Poesia! Felizes os que sabem cultivá-la.
Ave! Ave!
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