Atracado.
O espaço entre o veleiro e o cais nunca se mantém fixo. As bóias de defensa se chocam contra a murada do cais e poupam a carne do barco. A embarcação nada diz, de nada discorda, com nada concorda.
Atracado.
A maré oscila; o mar estica os milhares de tentáculos de que é feito e carrega lo veliero para cima; o mar retrai cada célula de sua pele líquida e o puxa para baixo.
Atracado.
As cordas de proa e de popa que prendem le bateau a voile a terra se revezam na função de se estender e de se recolher – tanto uma como a outra não se importariam em se romper, partir seus corpos, sangrar sem derramar uma gota para que o barco, livre, partisse.
Atracado.
Nas ruas próximas, the sailboat assiste ao movimento dos carros subindo e descendo ladeiras, gritando abusos com o ronco de estridentes motores. Quieto, ele nada diz. A boca com que fala são as velas infladas pelo vento – e, em verdade, é este que esparrama palavras pelos caminhos do mar.
Atracado.
O veleiro enxerga no horizonte o fim do limite sem fim dos mares; ele conhece as palavras de todos os idiomas, reconhecendo-se em cada uma delas. No silêncio que reina em si, na quietude resignada que envolve cada pedaço de seu corpo duplo (o físico, feito de matéria; o etéreo, feito da essência das águas) existe a paciente espera pela libertação.
E eu, atracado, assisto a toda a sua calma, contemplo toda a sua mansidão.
Fico torcendo para que a quietude também envolva meu corpo duplo. E peço para ter a mesma força e aguardar pacientemente a libertação.
Um comentário:
Sur la mer, le bateau a voile, même abordé, est toujours un espoir de liberté parce que les amarres peuvent rien vers l'eternité.
Que beleza de texto!
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