As águas do lago eram espreitadas por terra impiedosa. Raramente ele podia estender seu corpo para muito além de seu limite usual – a planície à sua volta o vigiava dia e noite, ano após ano. Algumas árvores serviam ao papel de sentinelas, sentindo, do alto de suas copas, as nuvens que criariam pesada e perigosa chuva. Então, elas usavam o vento que precede a tempestade para forrar o chão com suas folhas. Recebendo o aviso, a terra se retesava toda na seca que a tornava cada vez mais una, cada vez mais terra.
Causava-me desconforto olhar aquela superfície ondulante ser confinada pelo solo, que tinha todo o espaço desejado para esticar sua massa compacta. Vontade de criar meu próprio Estreito de Gibraltar, entrar naquele lago, empurrar a parede de solo para mais e mais longe, deixar as águas crescerem até que suas entranhas se fartassem de si mesmas.
Impossível.
Tirei a camiseta, tirei os tênis, molhei as mãos.
Um vento conspirador soprou as folhagens das árvores, tentou desviar minha atenção.
Caminhei devagar para dentro do lago, inundando o deserto de minha pele e deixando que a água lambesse meu corpo, reconhecendo pelo gosto e pelo cheiro aquele que tantas vezes estivera com ela.
O frescor do líquido apaziguou meu mal-estar.
Então as águas me sussurraram palavras úmidas, encheram meus olhos de líquida visão.
E toda a terra que me oprimia deixou de existir.
2 comentários:
Vai ter mais dessas?
Seu texto é lindo. Um banho de frescor na tarde tórrida
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