Ajeita no chão a metade de lata de óleo que lhe serve de fogareiro. Grosseiro corte lateral faz com que o ar entre e o fogo não se apague. Coloca um pouco de álcool no fogão improvisado, risca um fósforo, avivando o líquido derramado. Acomoda a marmita sobre a boca da lata, tira o chapéu, senta-se em um tronco próximo.
A sombra que a árvore proporciona não é lá essas coisas. Desloca o tronco para um local onde ficará mais protegido dos raios do sol.
A enxada, encostada na árvore, realiza seu ritual de silenciosa espera, guardando sua lâmina para o momento em que novamente ferirá na carne da terra, livrando-a das daninhas ervas que dela se alimentam. Mas o solo não se incomoda – sua vida é sustentar raízes, assim como a do céu é sustentar as nuvens, sejam elas de chuvisco ou tempestade.
Envolve a marmita já quente com o pano que a amarrava. Retira a tampa, olha a comida, murmura prece curta e seca, enfia com vontade a colher na refeição com a mesma mão com a qual maneja a enxada.
O talher cava o almoço assim como a ferramenta, a terra. A marmita vai se tornando estéril de alimento tal qual o solo, das ervas.
Come até limpar a vasilha. Guarda a colher dentro da marmita, tampando-a e a amarrando com o pano. Estende um pedaço de plástico no chão. Deita-se, encostando a cabeça no tronco.
Após breve sono, voltará a ceifar, cavando o solo com a ferramenta afiada, alimentando estômago voraz que digerirá o mato a céu aberto.
Um comentário:
Caro ceifador,
Que bom que tem gente alimentando o estômago voraz da internet com alimentos tão nutritivos como esse.
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