13.7.11

Sobre o que falávamos mesmo?

Passo-lhe a mão no pescoço e uma úmida respiração de pele me diz desejos e me estremece o corpo. Coloco-lhe a mão no rosto, aproximo-me um pouco mais, vejo a veia saltar-lhe logo abaixo do queixo em espasmos de uma fala cifrada, que a boca calada e o corpo imóvel tentam ainda esconder.
Um tênue calor sobe-me à garganta.
Sobre o que falávamos mesmo?", pergunta aos solavancos, com um fiapo de voz, enquanto suas pernas se esticam e se retraem sobre a cama.
Movo-me lentamente, meu peito se encosta em seu ombro, meus olhos nos olhos dela numa enxurrada de frases inquietas e mornas.
Um esticar de braço trás silêncio ao abajur e inunda o quarto com a cumplicidade da brisa de uma penumbra criada pela luz do banheiro.
Minha mão solta-se de seu rosto, desce-lhe pelo pescoço até atingir o fino tecido da camisola a lhe cobrir os seios: e lhe falo descompassadas frases no marulhar suave de dedos.
A colcha, encrespada aos pés da cama por ondas de meus pés afoitos, resigna-se a não mais cobrir nossos corpos. Esparramo no chão a alva maciez de um travesseiro e seu onipresente discurso de sono.
Ela agora tem a respiração mais acelerada, seus olhos buscam os meus não mais para fazerem perguntas, suas pupilas varrem minha face a lerem, com frenesi, as expressões de contentamento em meu rosto.
Sobre o que falávamos mesmo?
Nossa conversa paira sobre a cama, boia perdida na penumbra à espera de que lancemos um anzol que a resgate; à procura do cais onde aportam as conversas que os casais lançam às noites.
Não sei mais sobre o que falávamos. Não me incomoda num um pouco deixar esse assunto à deriva, chocando-se cego nas paredes do quarto.
Entrego-me a nossa conversa na penumbra: às frases que lhe digo em movimentos de braços e mãos, às frases que ela me diz em enlaçamento de pernas, às frases que nos dizemos no silenciar mútuo de lábios.