É sempre assim.
Começa com fiapos brancos a caiarem o azul do céu - alvos borrões criados pelos desossados dedos do vento. Os fiapos formam um rio timidamente leitoso a escorrer sem margens na pressa lenta de quem não precisa chegar.
É sempre, sempre assim.
Engrossando a voz de seu diálogo branco, os fiapos se argumentam em nuvens. Ainda há céu, ainda há azul, mas instintivo sentimento de unicidade perpassa seus corpos amorfos - e as nuvens se procuram na cegueira, orientadas por seus úmidos cheiros.
É sempre, sempre assim.
De repente, o azul passa a ser soluços em um branco céu de nuvens, que se aglomeram em um ser único, a alongar seus membros na voracidade calma da preguiça inofensiva.
É sempre, sempre assim.
Então vem o incômodo com o peso excessivo, a massa compacta a não mais desejar horizontes, o cansaço em ser um latifúndio branco a alimentar-se do azul que não mais é. Invade-lhe uma tristeza plúmbea que cresce, cresce até ser impossível continuar a senti-la - nasce de uma garganta sem boca o trovão, pesaroso grito de dor.
Foi sempre, sempre assim.
Desde o início, desde que pela primeira vez se uniram por seus úmidos cheiros, jamais as nuvens mudaram a forma de ganhar o céu, de esconder o azul. E quando o desconforto traz o grito de dor, as tornam negras como um corpo sem vida, as nuvens abrem suas entranhas macias, reviram seus úteros diáfanos.
E chovem.