Três botões abertos na camisa aliviam pouco o calor que o velho sente: bom seria o escorregar macio do vento sobre a pele, a névoa fresca da chuva respingada no parapeito da janela. Mas o vento se escondeu - e se esconde tão bem que é impossível achá-lo e metê-lo novamente à galope. E, da chuva, só se sabe quando chega.
De modo que o homem está na sala, a meio caminho do alpendre, em busca de um frescor incerto. Mas "a meio do caminho" pode ser incentivo a embutir traiçoeira facilidade: ao velho, fazer é verbo de conjugação lenta e muitas vezes impessoal.
As pernas não mais têm forças, e os pés rastejam pelo piso - barcos a singrar sem velas um mar sem água. Primeiro o pé direito se adianta, só um pouco, adiantar-se demais é trazer desequilíbrio ao corpo. Espera. O pé esquerdo então desliza, passa rente ao direito e ancora-se numa mansidão de pedra.
Durante longos, lentos, pesados minutos alterna-se um chiado à direita e à esquerda, até que o velho cruza o limiar da porta da sala e recebe no rosto o silêncio seco do vento ausente.
No canto do alpendre, uma cadeira de balanço é calada oferta de conforto.
O velho se aproxima, apóia a mão direita em um braço da cadeira, a esquerda em outro, tenta suster o próprio peso e sentar-se suavemente. Mas as forças, que faltam às pernas, esgotaram-se nos braços, e o corpo do homem despenca no assento de madeira.
A cabeça recostada no espaldar, a boca ligeiramente aberta numa respiração rouca, os olhos desatentos e opacos, o velho solta o braço direito ao lado do corpo.
Compassadamente, move-o com movimentos de pêndulo, a marcar a cadência precisa dos passos firmes do Tempo.