7.8.07

Sedução

Tendo se deitado há pouco mais de dez minutos, olhar fixo no teto, um abajur aceso ao lado da cama, um livro aberto sobre o peito, o homem pensa em seu dia enquanto espera pela mulher.
Desperta e lúcida, a Noite vagueia escuridão pelo quarto e alimenta sonolência no homem. Aliando-se à noite, o cansaço lhe pesa as pálpebras; ele pisca uma, duas vezes, cerra olhos para a Vigília, começa a cochilar.
A mulher entra no aposento, chama pelo marido, não obtém resposta. Fecha vagarosamente a porta, olha no leito e vê o homem dormindo. Movendo-se com cuidado para não despertá-lo, ela abre gaveta de uma cômoda e pega uma camisola de seda.
Mesmo esforçando-se para preservar o sono do homem, o barulho de abrir e fechar a gaveta o desperta. Mas ele mal abre olhos, vê apenas o vulto da mulher, e o Sono fica indeciso entre estreitar o abraço ou afastar-se do corpo do homem.
Amolecido, ele vislumbra a mulher envolta em névoa feita de torpor e sonho; percebe-a tirar a calça, a blusa, passear pelo quarto uma diáfana nudez coberta apenas pela lingerie. Quando a mulher tira o sutiã, puxa as alças da calcinha, ajeitando-as na cintura, os sentidos do homem tentam arrebentar a fina camada de languidez que se prepara para jogá-lo no noturno abismo do sono. Alquebrado, o corpo lhe exige imobilidade; as pálpebras lutam para que os olhos se esqueçam de enxergar.
Ela veste a camisola, ele tem a opaca visão do tecido macio a lhe escorrer na pele clara, e solta um suspiro longo e morno.
A Noite desnuda ainda mais seu seio negro; o Sono arqueia seus mil braços de sono.
E a mulher passa a mão pelo rosto do homem, beija-lhe a testa e apaga a luz do abajur.