Que importa à árvore saber quantos anéis acumula em seu tronco? Importa-lhe saber a quantos anos estica tronco, ramos e folhas na direção do céu? E o que são anos, que é o Tempo?
Sua preocupação é fixar-se bem ao chão, estocar o solo com os aguilhões de suas raízes e prender-se à terra em abraço não envolvente; querer ainda alargar-se pelo espaço, dedilhando o etéreo terreno feito de ar com os galhos cheios de sua verde pele.
Oferece, ao açoite do vento, todas as faces que não possui – e resiste. Mesmo quando uma simples brisa cresce e se torna tempestade, a árvore redobra determinação, verga-se, urra com as escancaradas bocas desdentadas que lhe faltam – e continua a resistir. Raramente se entrega.
Desafia as finas e incandescentes agulhas do Sol, criando, a sua volta, inexpugnável sombra onde o frescor se deita e refresca as horas.
Recebe a chuva às vezes serenamente, às vezes intempestivamente. Mas sempre deixa a água lhe encharcar o corpo; sempre segura e engrossa pingos na massa de folhas que a reveste, soltando-os de tempos em tempos aos seus próprios pés.
Quando o Tempo, que ela não conhece, decide ser o momento de a árvore dobrar-se em única e definitiva queda, ela enfraquece o abraço das raízes, perde o desejo de alargar-se, despoja-se da folhagem.
O vento passa a evitá-la, contornando seus galhos com desprezo e lentidão. O Sol fustiga-lhe a fraqueza, fulminando com calor o frescor desprotegido de sombra. A chuva desce-lhe pelo corpo e a árvore não mais a percebe; a água escoa pela insensível carne rugosa do tronco e empoça-se perdida no solo.
Então, a árvore entrega-se, raízes-tronco-galhos, ao Tempo que não lhe importa.
E espera.