“Meus desejos são meus maiores segredos”, pensa o girassol enquanto todo seu rosto se volta para a fonte de luz que jorra do céu limpo. Tanto azul por onde vagar olhos; tanto horizonte para alongar perguntas, empurrar tristezas, descobrir paixões, e ele dirige suas perguntas, tristezas e paixões unicamente ao Sol.
A flor diz amor pintando de amarelo as pétalas; nascente, o Sol diz luz. A flor diz amor esticando o caule a dois, três metros do solo; afastando-se da terra, o Sol diz calor. A flor diz amor agarrando-se ao solo com raiz tão longa quanto o caule; alto, o Sol diz mais calor. A flor diz amor alongando braços de folhas verdes; subindo, o Sol diz ainda mais calor. Ao longo do dia, todo o amor que a flor diz é com os olhos voltados ao Sol, que só sabe dizer calor...calor...e sulcar o céu com quilha incapaz de criar marola.
Quando o céu finda, o Sol se cansa de monologar e se recolhe.
O girassol volta o olhar perdido para o solo e não percebe outros girassóis atrás de si com o mesmo olhar, as mesmas pétalas amarelas, os mesmos caules, raízes e folhas. Todos esperando o ressurgimento da luz para, mais uma vez, silenciosamente dizer amor.
Enquanto esperam, renovam perguntas e tristezas, guardam paixões e pensam “meus desejos são meus maiores segredos”.